abc da língua culta (560 pp.) é o terceiro volume de uma série de obras inéditas daquele que foi considerado, unanimemente, um dos maiores gramáticos do Brasil (ao lado de Carlos Henrique da Rocha Lima, Celso Cunha e Evanildo Bechara). A edição conta com organização e supervisão da escritora Lya Luft, coordenação do professor Marcelo Módolo e revisão técnica de Waldemar Ferreira Netto.Segundo as palavras do próprio Celso Luft, abc da língua culta é uma obra explicativa de questões de português. O leitor encontrará casos de sintaxe (colocação, regência, concordância), morfologia, fonética, neologismos, estrangeirismos, problemas de uso, diferenças entre sinônimos, variações entre Brasil e Portugal, etc., registrados e comentados em linguagem simplificada. Trata-se, de fato, de um dicionário enciclopédico centrado em questões sutis e/ou recorrentes, dos mais variados tipos, que envolvem o uso correto da língua escrita (daí o adjetivo culto do título). Assim, à diferença de um dicionário comum, em lugar de apenas termos isolados darem entrada aos verbetes, encontra-se, por exemplo, o par ao encontro de / de encontro a. Quando se usa uma e quando a outra expressão? E quando é correto usar aonde e quando onde? Ao mesmo tempo que ou ao mesmo tempo em que? À vontade ou à-vontade? Além de expressões assemelhadas na forma mas distintas no significado, o dicionário contempla muitos outros tipos de entradas, como termos literários, ao estilo de Augias, variações de grafia como assobio / assovio, articulações de palavras difíceis (por exemplo, o superlativo de atroz), e ainda sobreposições semânticas como avestruz / ema, para não falar de estrangeirismos, usos raros etc., em ordem alfabética e na forma de verbetes completos, contemplando morfologia, fonética, sintaxe, estilística e usos. E talvez o mais importantes: redigidos de forma clara, abrangente e esclarecedora. Tudo somado, sua leitura seguida tem o efeito de um verdadeiro curso avançado de língua portuguesa.Depois de ter o livro à mão, a questão que sobrevém é como foi possível sobreviver até hoje sem ele, em meio ao cerrado cipoal de dúvidas de todos os tipos que, no dia a dia, enredam quem quer que tenha de redigir um texto correto em português do Brasil. Se, como diz Marcelo Módolo no final da apresentação, ficam os estudiosos do português brasileiro devendo a Celso Luft mais esta substanciosa lição, os usuários da língua o ficam ainda mais. E eles somos todos nós (ah sim: Augias foi um rei mitológico que contratou Hércules para limpar suas cocheiras; o superlativo de atroz é atrocíssimo; quanto à avestruz e à ema, além de a primeira ser maior e africana, e a segunda menor e americana, esta tem três dedos e aquela apenas dois).