Nesta coletânea, estão reunidos pela primeira vez três escritos inéditos em nosso país: os artigos de Louis Althusser “Lênin e a filosofia” e “Lênin perante Hegel” e a brochura de Dominique Lecourt “Uma crise e seu significado: ensaio sobre a posição de Lênin na filosofia“. A partir do pontapé dado por Althusser no debate sobre a relação entre Lênin e a filosofia, Lecourt desenvolve e aprofunda as indicações oferecidas por seu antigo professor universitário e apresenta uma tese inovadora em defesa das elaborações de Lênin neste terreno, defendendo, na contramão do senso comum do marxismo universitário, a continuidade e a unidade teórica existente entre a teoria do reflexo de Lênin em “Materialismo e empiriocriticismo” e nos “Cadernos sobre a dialética de Hegel“.

“É o próprio Lênin quem diz: não sou um filósofo e estou mal preparado neste domínio; sei que as minhas formulações e definições são vagas, mal delineadas; sei muito bem que os filósofos vão acusar o materialismo de ser ‘metafísico’. Mas, Lênin acrescenta: a questão não é esta. É que não só não faço a filosofia deles, como não ‘faço’ filosofia, em absoluto, como eles. A sua maneira de ‘fazer’ filosofia consiste em despender tesouros de inteligência e sutileza para nada mais que ruminar na filosofia. Quanto a mim, trato a filosofia de outro modo, pratico-a, como queria Marx, de acordo com o que ela é. É isto o que eu julgo ser ‘materialista dialético’.”

Louis Althusser: Lênin e a filosofia

“Na primeira parte de ‘Materialismo e empiriocriticismo‘, Lênin, ao apresentar a tese do reflexo, defende, sim ou não, contra os seus adversários, uma teoria empirista-sensualista do conhecimento? A leitura atenta desta obra convenceu-nos de que este debate não terá nunca fim, pois perde de vista o objeto da primeira parte de ‘Materialismo e empiriocriticismo’. Apresentamos nossas conclusões sob a forma de três paradoxos a resolver:
a. o ‘reflexo’ tratado na tese do reflexo é um reflexo sem espelho;
b. apesar de todas as aparências, Lênin não defendeu, de maneira nenhuma, uma teoria sensualista do conhecimento;
c. não existe nenhuma contradição entre as teses defendidas em ‘Materialismo e empiriocriticismo‘ e as que mais tarde serão defendidas nos ‘Cadernos sobre a dialética‘: em particular, a tese do reflexo (sem espelho) será retomada e pensada na categoria de processo (sem sujeito).”